Você deve estar se perguntando: como assim “quais são os principais tipos de motores automotivos?”, não é tudo a mesma coisa?
A resposta curta para a sua pergunta poderia ser: sim, todos eles servem para a mesma coisa, gerar energia para fazer com que o seu carro ou moto possa se movimentar.
Alguns se utilizam de combustíveis fósseis, outros com eletricidade e outros métodos peculiares também são utilizados para fazer que o brinquedo sobre rodas possa dar um passeio.
O artigo de hoje poderia seguir por dois rumos: diferentes combustíveis ou diferentes configurações, vamos ficar com as configurações, afinal, os combustíveis são mais fáceis de entender: os motores convencionais precisam gerar uma combustão interna para gerar energia, e essa queima pode vir de variados combustíveis e os mais comuns são os que você encontra nos postos: Álcool (Etanol), Gasolina e Diesel.
Mas falar das configurações é diferente, é mais focado no layout dos motores, a mecânica por detrás da queima e funcionamento e sim, existem várias e algumas que eu tenho certeza que você nunca nem ouviu falar, imagina só, se um Gol tivesse a mesma configuração de um Lamborghini?
Motor de configuração em linha – Inline
Motor de configuração em linha ou, também conhecido como inline é o layout mais conhecido e usado no mercado atual.
Se você tem uma noção de mecânica, ainda que pequena, já viu o quanto os motores são componentes complexos, afinal, é o conjunto de “engrenagens” operando em perfeito funcionamento. Tendo essa “complicação” em vista, os motores em linha são os preferidos pelos mecânicos (e pelos fabricantes) devido a sua simplicidade.
“Em linha” quer dizer, literalmente, que os cilindros do motor são posicionados em linha reta usando apenas uma bancada de cilindros conectados ao virabrequim. Digamos que essa instalação é muito inteligente pois torna os motores em linha mais baratos de se produzir e manter, mais confiáveis e mais simples de serem consertados.
Não é difícil você encontrar um motor em linha nas ruas brasileiras afinal, ele está presente na grande maioria dos carros populares, como por exemplo o HB20:
HB20 2023, usa um motor de 3 cilindros em linha 1.3.
Mas você também pode encontrar essa configuração em veículos mais raros e potentes como no famoso Nissan Skyline que ficou famoso entre os entusiastas automotivos com sua aparição em Mais Velozes e Mais Furiosos e em jogos de videogame como Need For Speed: Underground.
Equipado com um motor biturbo, 6 em linha que gerava 280cv de potência, suficientes para levar o Skyline até os 250 Km/h.
Antes de partirmos para o próximo layout eu vou te dar uma dica: não se surpreenda com números exagerados! No mundo automotivo nem sempre quantidade quer dizer qualidade.
A marca sueca Koenigsegg surpreendeu o mundo quando apresentou o seu motor Inline 3, 2.0 com capacidade de produzir absurdos 600cv de potência! O motor é chamado de TFG, Tiny Friendly Giant ou em bom português “Pequeno e Amigável Gigante”.
O TFG é equipado no cofre do modelo Gemera, um Grand Tourer (sedã, coupé 2+2), juntamente com um conjunto elétrico nas quatro rodas que, somados, podem levar o carrinho aos 400km/h.
Motores em combustão não são usados apenas em carros ou motos, muitos outros veículos também usam só um pouquinho diferente do que a gente vê nas ruas. Um exemplo são os enormes motores à diesel em linha que são usados na indústria náutica.
Motores em V
Talvez os motores em V não sejam os mais comercializados, mas com certeza são os mais notórios e os mais lembrados. Ouvir a frase: “fulano dirige um V8” com certeza traz certa firmeza, principalmente para quem gosta de potência.
Quando se fala de motores em formato V é possível que as primeiras imagens que veem na sua cabeça são os Muscle Cars americanos, clássicos e responsáveis pela fama do V8.
Imagine o motor em V como um “primo” do motor em linha, no caso do inline os cilindros são alinhados sequencialmente em apenas um bloco e conectados ao virabrequim, nos V acontece quase o mesmo com a exceção de que agora os cilindros são divididos em dois blocos inclinados trabalhando separadamente uma quantidade em cada lado.
Há mitos que dizem que motores em V são mais potentes que motores em linha, o que não necessariamente é verdade. Acontece é que essa configuração permite a adição de mais cilindros, o que consequentemente aumenta as cilindradas e a taxa de trabalho de um motor.
Outra grande diferença entre esses motores é o seu tamanho, o “em linha” é mais estreito e ocupa menos espaço no cofre, além disso, varia em comprimento dependendo de quantos cilindros estamos trabalhando; já os V tendem a serem menores em comprimento mas maiores em largura.
O tamanho interfere diretamente em questões mecânicas, de manutenção e também em consumo, os motores V tendem a consumir mais e exigir mais atenção dos donos.
Essa configuração é a queridinha entre as fabricantes de carros esportivos, mas não se restringe só a eles:
Algumas motos como a Harley Davidson usam um motor V2 como em seu modelo Road King.
Por volta dos anos 80 e 90, algumas fabricantes utilizavam motores V3 em suas motos de corrida, como era o caso da Honda NS500.
Ainda nas corridas, a Porsche utilizou um V4 em conjunto com um powertrain elétrico no seu modelo 919 Hybrid, recordista em Nürburgring e vencedor por 3 edições consecutivas da tradicionalíssima 24 Horas de Le Mans.
Sonho de consumo de vários brasileiros durante anos (e para alguns até hoje), o Hyundai Azera é um sedã grande da marca coreana equipado com um motor V6.
Conhecido por muitos como o “muscle car brasileiro” o clássico Ford Maverick tinha um enorme motor V8 com sangue americano e um belo ronco.
Subindo mais um pouco a cilindrada, temos o Audi R8 equipado com um superpotente V10 relativamente comum nas ruas brasileiras, já viu algum?
O carro usado pelo nosso saudoso Ayrton Senna para se sagrar campeão da Fórmula 1 de 1991, o McLaren MP4/6, tinha um motor Honda V12.
Quando falamos das primeiras épocas da indústria automobilística, ser maior significa ser melhor e, para isso a Cadillac trouxe o Sixteen ao mundo em 1931, com um gigantesco motor V16 que funcionava basicamente como dois motores V8 unidos.
Motores V18 e até V20 são usados em máquinas que precisam de um torque imenso para mover cargas imensas como é o caso de caminhões de mineração como o BelAZ 75600.
Mas teve um cidadão que teve tempo, dinheiro, disposição e insanidade para juntar dois motores V12 e criar um motor V24 único no mundo que gera mais de 3mil cv!
Motores em VR e W
Conforme falamos antes, um motor em linha é o que você precisa se procura economizar em espaço e quem sabe perder um pouco de potência, já no caso dos motores em V é no caso de não ligar para espaço e só se preocupar com potência. Pode reparar, a maioria dos carros com motor em V são bem maiores do que os que usam motor em linha.
Mas o que fazer quando eu tenho um carro não tão grande mas ainda preciso de potência? A Volkswagen inventou a solução para isso: o motor VR.
Cerca de 90% dos veículos que usam essa configuração são da VW e é bem capaz de você ter encontrado com um nas ruas.
O “R” em VR vem de “Reihenmotor” que basicamente significa “motor em linha”, então é isso mesmo que você está pensando: o motor VR é um motor em V só que em linha.
A matemática por detrás de toda essa obra é bem engenhosa: basicamente são as mesmas duas de cilindros que existem num motor em V só que dessa vez em apenas uma câmara, só que para que isso possa acontecer perfeitamente, uma das linhas precisa ser inclinadas para que a volta de seus cilindros ocorra em perfeita harmonia.
Essa maravilha mecânica resulta em um motor com mais capacidade de deslocamento, mais potência e tudo isso sem que seja necessário alterar drasticamente o desenho do carro.
Só que digamos que você ainda precise de mais potência, só que nesse caso não precisa mais se preocupar com tanto espaço “sobrando” o que fazer?
Simples “junte” dois motores VR e tenha um motor W!
O motor W
O motor W é fácil de se explicar mas pode ser um pouco complexo ainda assim. O motor VR é a compactação de um motor em V usando apenas uma câmara, com isso, a junção de duas câmaras VR ligadas ao mesmo virabrequim resulta em um motor W, deu pra entender?
Isso permite um deslocamento muito grande sem contar a quantidade de cavalos de potência, coisa que pode ser vista no Bugatti Veyron, que é equipado com um motor W16 (VR8 + VR8) de 16.4 litros e 1200 cv de potência, capazes de fazer o carro chegar aos 434 Km/h.
Hoje em dia, os motores W são usados em sedãs superesportivos e hipercarros, principalmente das montadoras Bentley e Bugatti, coincidentemente, ambas pertencem ao Grupo Volkswagen.
Motor Boxer
Também conhecido como “motor contraposto” ou “flat engine”, O motor boxer é composto de cilindros conectados a um eixo virabrequim com as cabeças dos pistões opostas.
“Flat” traduzido quer dizer achatado o que essencialmente faz sentido, essa configuração faz sim com que os motores fiquem mais largos porém traz vários benefícios, tais como a distribuição de potência mais rápida para as rodas, melhor taxa de resfriamento e também garantem um centro de gravidade melhor para o veículo.
Esse tipo de motor pode ser encontrado em diversos modelos:
O nosso querido Fusquinha tem um motor boxer de 4 cilindros, projeto esse que veio com ajuda de Ferdinand Porsche, sim, o próprio criador da marca de esportivos.
A mesma configuração é usada na maioria dos esportivos da Porsche, só que com 6 cilindros e um temperinho a mais para entregar uma performance digna de pistas de corrida
E por falar em corrida, a Subaru chegou a desenvolver um Boxer 12 cilindros para ser usado na Fórmula 1, mas o motor não chegou a ser aproveitado por nenhuma equipe fazendo com que a montadora desistisse do projeto e voltasse a focar no rally.
Contudo, anos depois, Christian von Koenigsegg o criador da marca de hipercarros sueca que leva seu sobrenome, chegou a adquirir o projeto Flat-12 com o intuito de colocar em seu primeiro carro. Mas, não foi possível, desavenças jurídicas forçaram-o a criar o seu próprio motor.
Motor Wankel
Por último, um dos menos conhecidos dessa lista, o motor Wankel ou, motor rotativo.
Primeiramente, para gerar energia, o motor precisa de passar por quatro estações e são elas:
- Admissão, onde o ar junto ao combustível é coletado;
- Compressão, a mistura ar+combustível é pressionada e conduzida ao próximo passo;
- Combustão, onde é de fato gerada a energia motora e
- Exaustão, eliminação de gases e demais componentes
Lembra que eu falei que o Motor Wankel é um dos menos conhecidos, certo? Tudo bem, mas ele está longe de ser uma das mais brilhantes criações convertidas ao mundo automobilístico.
O surgimento desse tipo motor se dá no início dos anos 30, quando um jovem engenheiro alemão, Felix Wankel, quis “reinventar a roda”, e com sua criação, por muito tempo ficou conhecido como a maior inovação tecnológica da sua época.
Enquanto o motor convencional tem pistões para realizar a operação de 4 tempos e gerar energia, o motor Wankel substitui cilindros e bielas por apenas um disco de formato triangular que realiza todo esse trabalho, uma construção simples e eficaz.
Quando você tem um motor mais “descomplicado”, existem algumas facilidade e vantagens sobre os demais concorrentes, no motor rotativo, com sua simplicidade e redução de peças em relação ao motor comum, você tem um trabalho mais suave, sem muitas vibrações, menos desgastes e uma duração extendida.
A responsável pela popularização do motor Wankel pelo mundo automotivo foi a fabricante japonesa Mazda que começou a usar em seus carros por volta do ano 1970, com suas criações icônicas e vivas nas memórias de vários amantes e entusiastas de carros e corridas.
Um dos modelos mais lembrados é o RX-7, presente em vários jogos e filmes, o veículo foi um ícone da cultura automotiva japonesa nos anos 90 e 2000, respeitado até hoje. O modelo foi a prova de que o Wankel era realmente surpreendente: carregava um motor de apenas 1.3l com dois rotores, que produzia 280cv!
E a receita para melhorar o desempenho de um motor rotativo é simples: sobrealimentação e adição de mais rotores. Com isso em mãos, chegar a potências astronômicas e desempenhos invejáveis era relativamente fácil, isso foi isso que a Mazda fez!
O Mazda 787B foi o modelo que trouxe a marca ao seu auge mecânico, seu motor com 4 rotores gerava mais de 900cv e levava o carro a mais de 300 km/h, tudo isso fez com Mazda fosse a primeira montadora japonesa a ganhar as 24h de Le Mans, a única até a Toyota realizar o feito novamente em 2018!
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